Garantir condições dignas de vida e fortalecer o cuidado integral às pessoas vivendo com HIV/Aids é o principal objetivo do Programa CMais PVHA, criado pelo Governo de Sergipe, por meio da Secretaria de Estado da Assistência Social, Inclusão e Cidadania (Seasic). O programa, implantado na atual gestão, oferece um auxílio mensal de R$ 200,00 a pessoas com HIV/Aids em situação de vulnerabilidade, permitindo mais autonomia para adquirir alimentos e itens essenciais, reforçando o direito à cidadania e à qualidade de vida.
Destinado a pessoas inscritas no Cadastro Único, com renda per capita de até um salário mínimo e residência em Sergipe, o CMais PVHA também garante sigilo e preserva a dignidade dos beneficiários, conforme a Lei nº 14.289/2022, que protege a confidencialidade de pessoas com HIV, hepatites crônicas, hanseníase e tuberculose.
O cozinheiro e influenciador sergipano Djair Gomes, de 28 anos, vive com HIV há sete anos e encontrou no programa um importante aliado para manter sua saúde e qualidade de vida. Diagnosticado enquanto cursava Enfermagem, Djair enfrentou preconceito, desemprego e vulnerabilidade, mas, hoje, usa suas redes sociais para conscientizar outras pessoas sobre a importância do tratamento e da alimentação saudável.
“Conheci o CMais através da Associação Bom Samaritano. Quando comecei a receber o cartão, foi um alívio. Na época, eu estava desempregado, e o benefício me ajudou muito. A alimentação é fundamental para manter a imunidade alta, não é só o remédio que importa. O cartão garante o básico e traz dignidade. Às vezes, o pouco é muito para quem não tem nada”, relatou Djair.
O auxílio é creditado mensalmente em um cartão Banese, permitindo que os beneficiários escolham onde e como gastar de forma sigilosa e autônoma. Antes, o programa entregava cestas básicas, o que tornava o acesso mais difícil e comprometia a privacidade. “As pessoas tinham que se deslocar até as ONGs para pegar a cesta básica. Agora, o valor cai direto no cartão, e a gente compra o que quiser, em qualquer lugar que aceite Banese. Isso facilita muito e ajuda a preservar o sigilo”, afirmou Djair.
Política pública
O relato de Djair ilustra o impacto concreto do programa na vida de centenas de sergipanos. Para o gerente do Programa IST/Aids da Secretaria de Estado da Saúde (SES), Dr. Almir Santana, o CMais PVHA representa uma evolução nas políticas públicas voltadas às pessoas com HIV. “O cartão traz mais autonomia, praticidade e segurança. A pessoa compra o que precisa e preserva sua privacidade. Antes, muitas moravam no interior e precisavam carregar as cestas nas costas; além disso, não podiam escolher o que comprar, e o sigilo ficava comprometido”, explicou.
Em Sergipe, cerca de 10 mil pessoas vivem com HIV, segundo dados da SES, sendo uma parcela significativa em situação de pobreza e vulnerabilidade social. Para o Dr. Almir, o cartão humaniza o cuidado e contribui para a adesão ao tratamento, fortalecendo autoestima e segurança alimentar. Ele reforça que, com diagnóstico precoce e tratamento adequado, é possível ter uma vida longa e saudável. “Hoje, quem faz o tratamento corretamente e tem diagnóstico precoce não morre mais de HIV. Mas o cuidado não se resume ao medicamento; alimentação e acolhimento também salvam vidas”, enfatizou.
A política estadual de inclusão reforça a importância do sigilo e do respeito à privacidade das pessoas vivendo com HIV, garantindo que o benefício seja operacionalizado de forma segura e confidencial. “O sigilo é essencial. Em outros lugares, já houve casos de exposição de listas de pessoas com HIV. Aqui em Sergipe, o trabalho é feito com responsabilidade. O cartão é uma conquista de cidadania e respeito”, destacou Dr. Almir.
Dignidade e qualidade de vida
Sobre a qualidade de vida, Dr. Almir afirma que mudou muito. “Com diagnóstico precoce e tratamento adequado, não se morre mais de HIV. Antes, os tratamentos eram mais complexos, com muitos comprimidos, dificultando a adesão. Hoje, o tratamento é mais simples, eficaz e gratuito pelo SUS, o que é fundamental, pois o custo mensal do tratamento chega a cerca de R$ 1.900 por pessoa”, pontuou.
Hoje, além de beneficiário, Djair se tornou ativista na luta contra o preconceito. Ele lembra que, após o diagnóstico, enfrentou demissão, exclusão e até viveu em situação de rua. Com estabilidade e visibilidade nas redes sociais, usa sua história para inspirar outras pessoas. “Decidi falar abertamente sobre viver com HIV porque o preconceito ainda é muito forte. Muita gente não busca informação e ainda trata a pessoa com HIV como um risco. Eu tento mostrar que é possível viver bem, com saúde e qualidade de vida. A informação é a nossa melhor arma contra o preconceito”, relatou.
Atualmente, cerca de 900 pessoas são beneficiadas pelo programa. O CMais PVHA segue como um exemplo de política pública eficaz e humanizada, que alia segurança alimentar, autonomia, inclusão e combate ao estigma. “Hoje eu sigo o tratamento direitinho, tomo meus remédios todos os dias e me alimento bem. Graças a isso, estou indetectável, vivendo normalmente e com muito mais disposição. O programa me ajudou a ter uma vida mais tranquila, sem tanta preocupação com o básico”, contou Djair.