
Rimas visuais entre o popular e o contemporâneo marcam a exposição que será aberta nesta sexta-feira, dia 31, no Memorial Abelardo da Hora (MAH). Obras da Marcenaria Olinda - que fazem parte do projeto ‘Fora de Hora’ - poderão ser vistas a partir das 19h. A mostra permanece aberta até o dia 14 de dezembro. O Memorial Abelardo da Hora fica localizado no Espaço Cultural José Lins do Rego (avenida Abdias Gomes de Almeida, 800 – Tambauzinho, em João Pessoa).
O MAH, em João Pessoa, foi inaugurado em 2022. É um museu dedicado à obra deste mestre, com mais de 250 obras, entre esculturas, desenhos, pinturas, gravuras, cerâmicas e tapeçaria, conforme a gerente Maria Botelho. Com coordenação de curadoria e expografia de Daniel da Hora, o MAH (equipamento da Fundação Espaço Cultural da Paraíba - Funesc) é um dos maiores museus biográficos sobre um artista expressionista no Brasil.
Projeto Fora de Hora –Conforme a Curadoria, o projeto ‘Fora de Hora’ nasce como prática dialógica museal: um “date” entre poéticas artísticas, uma provocação que busca gerar debates sobre temas contemporâneos de decolonialidade. Em sua terceira edição, o acervo de Abelardo da Hora encontra a Marcenaria Olinda, espaço de criação onde arte, design, cultura popular e sustentabilidade se unem.
Fundada em 2015, a Marcenaria Olinda é uma oficina de criação em madeira, fotografia, vídeo, desenho e outras linguagens, com atuação nos campos do design, artes visuais, arquitetura, patrimônio e educação. Inicialmente sediada no sítio histórico de Olinda, a oficina está instalada, hoje, na área rural de Paudalho, Zona da Mata Norte pernambucana. O galpão abriga máquinas, ferramentas manuais e elétricas, além de diferentes tipos de madeiras de reuso.
Ela desenvolve suas criações exclusivamente a partir do reaproveitamento de madeiras, contribuindo, assim, para a preservação de nossas florestas. O espaço abriga, ainda, projetos de pesquisa, patrimônio imaterial, educação popular e formação junto a assentamentos rurais, escolas, grupos culturais, povos indígenas e comunidades tradicionais em Pernambuco e no Brasil.
A Marcenaria Olinda se insere em uma linhagem artística que une tradição e inventividade, mostrando que o ofício é também forma de resistência, poesia e reinvenção do comum. Assim como Abelardo da Hora declarava com orgulho ‘profissão: escultor’ nos inquéritos da ditadura, a Marcenaria Olinda se afirma enquanto ofício — um fazer que articula trabalho manual, experimentação estética e consciência ambiental.
Em ambos casos destaca-se a figura do trabalhador-artista e a compreensão da arte como ofício e compromisso, um território em que trabalho e criação se entrelaçam e onde o gesto manual adquire força simbólica como modo de repensar o mundo. Se Abelardo fez da sua arte um instrumento de denúncia social e celebração da cultura popular, a Marcenaria Olinda funciona como um laboratório vivo, transitando entre o popular e o contemporâneo e refletindo sobre arte, trabalho e natureza.
Neste processo, a marcenaria não é vista apenas enquanto técnica: é prática política, ritual e memória. Inspirada nas tradições artesanais, nos saberes orais e nas feiras populares, a Marcenaria Olinda propõe um diálogo entre sustentabilidade, memória e invenção, criando obras que transitam entre escultura, mobiliário, fotografia e intervenção urbana.
O Memorial Abelardo da Hora celebra este diálogo como um confronto de rimas visuais e convida o público a se deixar levar, flanando entre gestos, formas e ritmos que se provocam e ecoam, transformando cada espaço do museu em um palco de encontros e experiências inesperadas.
Abelardo da Hora -Considerado um dos maiores escultores brasileiros do século XX, Abelardo Germano da Hora nasceu no dia 31 de julho de 1924, na cidade de São Lourenço da Mata (PE). Formado pela Escola de Belas Artes do Recife, era escultor, pintor, desenhista e gravador. Vanguardista, foi um dos fundadores da Sociedade de Arte Moderna do Recife e um dos precursores da arte cinética no país, além de ser mestre de toda uma geração de artistas pernambucanos de renome, como Francisco Brennand, José Cláudio, Corbiniano Lins, Guita Scharifker, Gilvan Samico e Wellington Virgolino.
Tornou-se famoso sobretudo como escultor, com peças que podem ser vistas em vários países do mundo, como: China, França, Estados Unidos, Suíça, Rússia e antiga Tchecoslováquia. No Brasil, integra os acervos do Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro, Museu do Solar do Unhão na Bahia, Masp (Coleção Pietro Maria Bardi), Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC/USP), Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães (Mamam) do Recife e em inúmeras coleções particulares.
Além da trajetória que o consagrou como um dos grandes nomes das artes plásticas do Brasil, Abelardo da Hora teve forte participação na vida política nacional, como dirigente do Partido Comunista Brasileiro, integrando a luta pela redemocratização do Brasil, entre as décadas de 1940 e 1960. Além de artista plástico, era também bacharel em Direito, formado pela Faculdade de Direito de Olinda, e casado com a poeta e advogada paraibana Margarida Lucena, com quem teve sete filhos. Faleceu na manhã do dia 23 de setembro de 2014, em Recife (PE), aos 90 anos.







