
“Para mim isso é muito gratificante. Aqui, meu filho, além de aprender, também consegue socializar, que é uma dificuldade lá fora. Ele brinca com os colegas e se diverte. É importantíssimo para mim, pois sei que ele está sendo bem-cuidado, aprendendo todos os dias”. O relato da autônoma Iza Carla Cardoso, mãe de Lázaro, de 11 anos, ressalta a importância das Salas de Recursos Multifuncionais, desenvolvidas pelo Governo de Sergipe, por meio da Secretaria de Estado da Educação (Seed), voltadas à oferta do atendimento educacional especializado aos estudantes com deficiência, transtorno do espectro autista e altas habilidades ou superdotação.
O pequeno Lázaro foi diagnosticado com Transtorno do Espectro Autista (TEA), e a mãe do aluno optou por levá-lo ao Centro de Excelência Paulo Costa. Iza conta que o garoto, desde que entrou na escola, evoluiu significativamente. Ele tinha muita dificuldade de entender coisas básicas, como diferenciar manhã e tarde ou direita e esquerda. “Agora, possui uma noção maior. Também trabalharam muito com ele a questão de calendário porque ele tinha dificuldades em diferenciar os dias. Ele evoluiu muito ao longo do ano”, revela Iza.
As salas são coordenadas pelo Serviço de Educação Inclusiva (Seinc), vinculado ao Departamento de Educação (DED) da Seed. Ao todo, na rede pública estadual, são 134 salas espalhadas por todas as Diretorias Regionais de Educação (DRE), sendo 123 tipo 1, que atendem alunos com diversas deficiências como física, auditiva, intelectual e Transtorno do Espectro Autista (TEA), e outras 13 salas tipo 2, que, além dos grupos citados, também atendem alunos com cegueira.
Esses espaços possuem recursos pedagógicos que viabilizam aspectos da aprendizagem dos estudantes, trabalhando diversos estímulos, como destacou a diretora de Educação Especial da Seed, Lílian Alves. “O professor atende os estudantes, na maioria das vezes, de forma individual. O quantitativo de dias e de horas para cada estudante é definido pelo professor de sala de recursos multifuncionais”, pontuou.
Não há nenhuma lei que regulamente o limite máximo de estudantes por sala, e o que define a coletividade no atendimento é a funcionalidade desses estudantes, junto aos objetivos traçados no Plano de Atendimento Individual elaborado pela professora da sala de recursos. “Se a professora verificar, ao elaborar o planejamento, que é possível o atendimento coletivo, o limite de atendimento dessa sala aumenta. Mas, caso ela verifique que são estudantes em que o planejamento deve ser mais direcionado de forma individual, a capacidade diminui”, explica Lílian.
Pioneirismo
O trabalho da sala de recursos, contudo, é feito de forma complementar ao ensino regular. O estudante precisa frequentar normalmente o ensino regular, para que esteja apto a, no contraturno, frequentar a sala de recursos. Neste sentido, Sergipe deu um grande passo pela inclusão: na rede estadual, já é oferecido aos estudantes surdos o ensino da Língua Brasileira de Sinais (Libras) como primeira língua, por professores surdos, e o português como segunda língua pelas professoras de salas de recursos multifuncionais.
Além de toda a estrutura, as salas de recursos multifuncionais dependem de professores engajados que fazem a educação acontecer. A partir do trabalho destes profissionais, dedicados exclusivamente nas unidades de ensino a estes espaços, são desenvolvidas diversas atividades lúdicas e variadas que trabalhem a evolução destas crianças.
Gilda Correia dos Santos, 57, é professora há 21 anos e, desde 2016, atua na Sala de Recursos Multifuncionais do Centro de Excelência Jornalista Paulo Costa, no bairro Bugio, em Aracaju. Ela detalhou um pouco do passo a passo na construção deste desenvolvimento. “No ato da matrícula, muitos pais já trazem o relatório, e aí a gente faz o levantamento, entrando em contato com a família. A partir dessa conversa, conhecemos a realidade do aluno, em que nível ele está, e começamos a elaborar o Plano de Atendimento Individual. Cada aluno tem o seu plano e a sua demanda”, ressalta.
Participação da família
Com turmas que se renovam a cada ano, todo novo ciclo traz um desafio. Por isso, para Gilda, o trabalho lado a lado com as famílias faz toda a diferença. “A cada ano, a gente nunca sabe o aluno que vai chegar. Muitas vezes, precisamos ter esse contato com a família porque o aluno é matriculado, mas não é obrigado a vir. Quando a família é comprometida, a gente vê o avanço, e é importante que a família dê esse feedback”, frisa.
O contato com a família é constante, e os efeitos positivos são sentidos. Além de reuniões às segundas-feiras de forma exclusiva com os pais sempre que solicitado, também há um grupo no WhatsApp para contato direto da professora com os responsáveis. Iza, inclusive, relatou um caso de como esta rede foi importante para trabalhar a música com seu filho. “Como Lázaro tem sensibilidade auditiva, a médica o encaminhou para fazer musicoterapia, mas eu não sabia como proceder. Fui ao grupo das mães, pedi informações, e uma mãe cuja filha também faz uso da sala de recursos me orientou sobre as oficinas de música. Através dela, consegui colocar Lázaro no Conservatório de Música. É uma rede de apoio que nos ajuda demais”, conta Iza Carla.










