
O Centro de Excelência Barão de Mauá (DEA), localizado em Aracaju, foi uma das dez escolas selecionadas para o ‘I° Seminário Educação e Equidade: Caminhos para uma Escola Antirracista’, que ocorrerá no dia 28 de novembro, no Complexo Cultural Gonzagão. O evento, promovido pela Secretaria de Estado da Educação (Seed), por meio do Departamento de Educação (DED) e do Serviço de Educação do Campo e Diversidade (Secad), tem por objetivos enaltecer projetos escolares, reconhecer e promover debates sobre a valorização e o reconhecimento das culturas africanas, afro-brasileiras e quilombolas. Durante o seminário, será lançado também o e-book intitulado ‘Práticas Antirracistas no Cotidiano Escolar’.
Dos 170 colégios contemplados com o Selo Escola Antirracista Professora Maria Beatriz Nascimento, em 2024, dez foram selecionados para apresentar suas iniciativas voltadas às culturas afro-brasileira e indígena. O Centro de Excelência Barão de Mauá construiu o projeto ‘Escola Antirracista’, que abordou, ao longo de 2024, o tema ‘Combate ao Racismo Recreativo’, premiado com o ‘Selo’.
De acordo com a chefe do Secad, Geneluça Santana, essas iniciativas resgatam a autoestima dos estudantes e garantem a equidade étnica e racial nas salas de aula. “Trabalhar essas ações nada mais é do que reconhecer a importância e a contribuição destes povos na formação da sociedade, além de reforçar a autoestima dos estudantes negros e indígenas, trazendo à tona as suas ancestralidades”, contou.
Projeto ‘Escola Antirracista’
O ‘Barão de Mauá’ desenvolveu o projeto ‘Escola Antirracista’ há três anos. O colégio já tem trajetória no Selo Escola Antirracista Professora Maria Beatriz Nascimento desde o início do ‘Selo’, sendo contemplada nas suas três edições. O projeto envolve alunos do 1° ao 3° ano do Ensino Médio, e já foi destaque fora de Sergipe, sendo convidado a participar de atividades do Instituto Guetto, no Rio de Janeiro, com viagem dos alunos ao estado e participação no e-book da equipe.
O diretor da escola, Luciano Rodrigues, enfatiza que todo esse reconhecimento pelo projeto e a seleção para o 1° Seminário Educação e Equidade são frutos das ações de combate ao racismo que a escola vem desenvolvendo. “Estamos no caminho certo por cuidar deste projeto e desenvolver pautas importantes, que vão além da luta contra o racismo, abordando as vivências de matrizes africana e indígena e outras causas sociais. Tudo isso é um trabalho de ‘formiguinha’, e é por esta razão que fomos selecionados”, afirmou.
O professor de filosofia, Victor Wladimir Nascimento, é o responsável pela iniciativa. Ele conta que o projeto se iniciou a partir de uma provocação entre uma conversa com outros docentes, que o fez perceber a falta de conteúdos escolares voltados à mitologia e pensamento decolonial de origem africana e indígena, em razão da predominância europeia. “Eu reconheci essa limitação e me coloquei a estudar. Em meus estudos, entendi o racismo estrutural não somente na sociedade, como também na minha escola”, contou.
A partir disso, foram realizadas diversas ações na escola, unindo professores, alunos e equipe diretiva, com ampliação dos debates, incluindo a causa LGBTQIAPN+, por exemplo. “O projeto passou a trabalhar uma temática por ano, sendo o ‘racismo estrutural’ em 2022, ‘racismo religioso’ em 2023, o ‘racismo recreativo’ em 2024 e o ‘Afrofuturismo’ em 2025”, complementou o professor Victor, que irá apresentar no seminário a temática de 2024.
O racismo recreativo, segundo o professor, é aquele que se refere à propagação de ações preconceituosas por meio do humor, com piadas, sátiras e apelidos racistas, disfarçadas de brincadeiras. O docente contou que esta é a forma de racismo mais difundida em ambientes escolares, e que “por isso mesmo, o nosso tema foi ‘Minha cor não é piada’, no ano de 2024. Com as ações, tivemos uma redução drástica nos casos e uma participação ativa dos alunos na fiscalização e nas denúncias”.
Dentre as ações desenvolvidas durante a temática do ano passado, estão: palestras, sendo uma intitulada ‘Não foi só uma brincadeira, foi racismo’; sessão de filme voltado ao cinema negro no Brasil; aulão sobre Afrofuturismo; batalhas de rima; concursos de grafite antirracista, desenho e redação; apresentação do grupo Indígena Swbatkera e Kraxikliá da Aldeia Kariri Xocó; São João antirracista; oficinas dos símbolos Adinkra e cultura Ashanti, além de colagem com temática afro; Grupo de Estudos de Relações Étnico-Raciais e Gênero; Projeto ‘Escola vai ao terreiro’; eletivas livres; e rodas de conversa.
Participação dos alunos
O projeto mobiliza toda a comunidade escolar, com ampla adesão dos estudantes, como os amigos João Ruan Martins, Luana de Oliveira e Ithalo Sodré, os quais estão no 3º ano do Ensino Médio. João Ruan contou que aprendeu sobre as culturas e vivências africanas e indígenas. “Aprendi muitos conceitos e pude inteligir um outro mundo. Outra gratificação que tenho ao projeto é a apresentação à literatura negra, que foi onde mais me aprofundei, e pude ler autores como Mbembe, Fanon, Djamila e Beatriz Nascimento”, relatou o estudante, complementando que foi em razão dessas leituras que ele decidiu o curso de faculdade.
Para Luana, o projeto é algo diferente e transformador. Ela participou de várias atividades, como as rodas de samba e de conversa, a feira cultural e a visita ao terreiro, sendo esta última a que mais gostou. Luana também esteve presente na coordenação do projeto, em conjunto com outros colegas.
Já Ithalo Sodré afirmou que aprendeu sobre questões das mais diversas áreas, como as sociais, humanas, cultura, literatura e arte. Ele atuou na organização e participou diretamente nas rodas de conversa e no grafite. “Esses dois foram muito importantes para mim, graças ao meu aprendizado com a arte e a literatura, e pelo reconhecimento e combate ao racismo que nós perpetuamos”, disse.
O professor Victor enfatiza que a adesão dos alunos é o que define o projeto ‘Escola Antirracista’, com as temáticas e atividades sugeridas em conjunto por eles e a comunidade escolar. “Desde o primeiro momento a participação dos estudantes foi muito grande e ampliava a cada ação do projeto. No começo, os alunos de religiões de matriz africana pediram que o tema do racismo religioso fosse trabalhado, já que se sentiam envergonhados e escondiam sua religião, temendo o preconceito. Não tivemos mais casos de intolerância religiosa na escola. A temática proposta para o projeto sempre parte de um debate com as demandas dos alunos”, explicou. Para o próximo ano, a escola pretende trabalhar o ‘racismo na segurança pública’.



