
A Biblioteca dos Saberes, projetada por Francis Kéré, vencedor do Prêmio Pritzker, será um dos principais equipamentos culturais do Rio nas próximas décadas. Com mais de 40 mil metros quadrados, o edifício terá cobogós, pilotis e jardins suspensos que conferem leveza a uma arquitetura de escala monumental. A iniciativa faz parte do projeto Praça Onze Maravilha, um conjunto de ações que vão transformar a região e o entorno do Sambódromo, com investimentos de cerca de R$ 1,75 bilhão. A apresentação foi nesta quinta-feira (20/11), na quadra da escola de samba Estácio de Sá, na Cidade Nova. O evento teve a participação do prefeito Eduardo Paes e do vice-prefeito Eduardo Cavaliere.
– Pretendemos que este projeto promova um espaço de diálogo e reflexão. Desejamos que as pessoas se reúnam para ouvir e compreender a história do Brasil, os acontecimentos que nos trouxeram até aqui e como nos construímos como nação. Este é o cerne do projeto. Um local onde todos se sintam acolhidos, como em um terraço. A estrutura não é apenas um prédio, mas, sim, uma extensão das favelas e do Rio de Janeiro, algo que transcende Copacabana, pois oferece uma visão ampla da cidade. Criamos um espaço aberto a todos, conectando diferentes realidades, como os terraços e as favelas, integrando-os. Buscamos a construção de um espaço que valorize a história, a reflexão e o encontro, tornando-se um local de aprendizado e crescimento para todos – disse o arquiteto Francis Kéré durante o evento.
O espaço será dedicado à memória, ao conhecimento, às expressões populares e à biodiversidade, reunindo teatro, anfiteatro, cozinhas, salas de estudo e áreas expositivas. No centro do edifício, uma torre circular de quatro andares aberta à luz natural simboliza a universalidade do conhecimento. Inspirada no manto Tupinambá e nas arvores da vida, a torre reforça que cultura e saber são instrumentos de transformação e pertencimento.
A Biblioteca integrará acervos de iniciativas, como o Museu de Imagens do Povo, e adotará modelos de mediação cultural inspirados em experiências internacionais, como o V&A East Museum, em Londres. O local escolhido, o Terreirão do Samba, ao lado do monumento a Zumbi dos Palmares, está no coração da Pequena África, território onde nasceu o samba e a identidade cultural da cidade. Construir ali a Biblioteca dos Sabres reafirma que o patrimônio intelectual do Rio também nasce da cultura popular e das ruas.
A Biblioteca dos Saberes é o principal legado do Rio Capital Mundial do Livro e tem como objetivo fundamentar o processo de democratização do livro e da bibliodiversidade na cidade do Rio de Janeiro. Coordena a integração entre bibliotecas públicas e comunitárias, das melhores práticas em urbanismo e infraestrutura à composição dos acervos da cidade.
Francis Kéré
Durante sua visita ao Rio, Francis Kéré percorreu lugares que revelam camadas da cidade: viu o manto tupinambá, no Museu Nacional de Belas Artes, caminhou pelo jardim de Roberto Burle Marx, conheceu o Edifício Capanema — ícone do modernismo brasileiro —, e esteve na Pedra do Sal com Teresa Cristina e a velha guarda da Portela. Encontrou-se ainda com Conceição Evaristo, autora que transformou a ideia de “escrevivência” em fundamento literário e político. Esses encontros não foram protocolares: foram diálogos entre formas de saber, escuta e presença — e antecipam a alma da futura biblioteca.
Nascido em Burkina Faso, Diébédo Francis Kéré se formou na Universidade Técnica de Berlim. Ele é cidadão alemão e residente na capital do país desde 1985. Em paralelo aos seus estudos e trabalhos, criou a Fundação Kéré e posteriormente abriu seu próprio ateliê, o Kéré Architecture. O seu trabalho é reconhecido internacionalmente com prêmios como o Prêmio Aga Khan de Arquitetura de 2004 pelo prédio da escola primária de Gando, em Burkina Faso, a medalha de ouro no Global Award for Sustainable Architecture e o Prêmio Pritzker, considerada a maior premiação da arquitetura mundial, em 2022.