
A efervescência das manifestações culturais presentes na Maloca, primeiro quilombo urbano de Sergipe e segundo do Brasil, localizado no bairro Getúlio Vargas, se traduziu na primeira edição do 'Festival na Maloca: Ritmos e Comunidade', evento gratuito promovido pelo Governo de Sergipe, por meio da Fundação de Cultura e Arte Aperipê de Sergipe (Funcap), na noite deste sábado, 6. A programação teve como foco a valorização e o reconhecimento da pluralidade cultural e da identidade construída pela comunidade desde a década de 1930, que levou ao reconhecimento do território como Patrimônio Imaterial da Cidade de Aracaju.
A estreia do festival uniu as celebrações do Dia Nacional do Samba às ações alusivas ao Dia da Consciência Negra, reunindo artistas sergipanos que dialogam com a identidade cultural da Maloca a partir de diferentes expressões musicais. Subiram ao palco Mestre Saci, Arius Maia, Matheus Silva e o grupo Pagode do JM, todos com trajetórias diretamente conectadas às matrizes afro-brasileiras.
Para Mestre Saci, uma das principais vozes da cultura afro-brasileira contemporânea e liderança da comunidade, a realização do festival representa um marco. “Primeira edição desse projeto, sendo ainda mais especial pela comemoração do Dia Internacional do Samba, é muito importante para a gente esse reconhecimento. Estou muito feliz por esse evento existir e muito realizado por fazer parte dessa programação. O samba traz pertencimento, faz referência à nossa religiosidade, aos orixás, e a gente sempre vem agradecendo a eles pelas oportunidades. Quando a gente pede com fé, os orixás nos abençoam. Agradeço ao Governo do Estado e à Funcap, que esteve junto da comunidade. Que essa seja a primeira de muitas edições”, afirmou.
O multiartista Arius Maia, com 15 anos de pesquisa e dedicação à música e às tradições afro-religiosas, também comemorou o momento. “Tenho um orgulho imenso de estar participando dessa primeira edição do Festival na Maloca, trazendo a musicalidade afro-brasileira e também um pouco do meu trabalho autoral. Muito obrigado pela oportunidade de fazer essa apresentação aqui. Ter o primeiro festival aqui na Maloca é de suma importância para resgatar e valorizar as nossas crenças, a nossa ancestralidade”, destacou.
Público aprova
O festival também recebeu visitantes angolanos: Jorge Manoel, Joferson Moisés, Boris Diogo e DJ Bro Cesudas, que, em passagem por Aracaju, conheceram a Maloca e destacaram a experiência.
“Estamos em um tour turístico, conhecendo a comunidade quilombola. Está sendo uma experiência muito boa. Espero que mais pessoas, mais turistas, estrangeiros, venham conhecer esse local, essa comunidade maravilhosa. A gente ficou muito feliz pela recepção. Esse evento é um evento de conexão; a gente se sente representado. A gente é preto, africano, e encontrou uma comunidade quilombola com a qual a gente partilha coisas que conhecemos e experiências maravilhosas. Estou sem palavras.”, contou Jorge Manoel.
Para o historiador Lucas Gabriel, conhecido como Abiúdo, o festival reforça a dimensão histórica e simbólica da Maloca. “É uma emoção imensa estar participando do Festival na Maloca, essa primeira edição, e espero que tenha muitas outras. A Maloca é uma comunidade histórica aqui da cidade de Aracaju, formada por pessoas que descenderam da força trabalhadora que construiu essa nação. Estar aqui hoje celebrando o samba e a consciência negra é uma grande emoção, uma grande alegria. Que esse festival aconteça por vários e vários anos”, disse.






