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Instituto Butantan firma parceria para desenvolver terapia de anticorpos pioneira contra febre amarela

Medicamento MBL-YFV-01 será indicado como tratamento da doença para moradores de áreas endêmicas que não foram vacinados e acabaram sendo infectados

Colaboração para o Jornal Online Alagoas
Por: Colaboração para o Jornal Online Alagoas Fonte: Secom SP
21/11/2025 às 09h55
Instituto Butantan firma parceria para desenvolver terapia de anticorpos pioneira contra febre amarela
O Butantan possui um Laboratório de Biofármacos que estuda novos anticorpos monoclonais e uma fábrica onde podem ser produzidos diferentes anticorpos monoclonais. Fotos: Comunicação Butantan

Com o objetivo de aprimorar seu portfólio de produtos imunobiológicos, com foco especial em doenças negligenciadas e infecciosas, o Instituto Butantan firmou uma parceria estratégica com a empresa de biotecnologia Mabloc, sediada em Washington, nos Estados Unidos, para co-desenvolver e fabricar o MBL-YFV-01 — uma terapia inovadora com anticorpos monoclonais para infecção pelo vírus da febre amarela (YFV).

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O medicamento MBL-YFV-01 será indicado como tratamento da doença para moradores de áreas endêmicas que não foram vacinados e acabaram sendo infectados.

A parceria ocorre em meio à escalada de surtos de febre amarela no Brasil, incluindo casos humanos confirmados em São Paulo, Minas Gerais e Espírito Santo. Apesar da disponibilidade de uma vacina viva atenuada, milhões de pessoas permanecem em risco devido à baixa imunização. Uma opção terapêutica pós-exposição continua sendo uma necessidade médica.

“Enquanto o mercado tradicional se concentra em terapias de alto retorno financeiro, o Butantan direciona seus esforços para onde a necessidade é maior — desenvolver anticorpos monoclonais, medicamentos altamente eficazes, mas de custo elevado, reafirmando nosso compromisso de transformar pesquisa em impacto social e colocar a saúde pública acima de qualquer interesse econômico”, afirma o diretor de Inovação e Licenciamento de Tecnologia do Instituto Butantan, Cristiano Gonçalves.

A Mabloc, empresa de biotecnologia impulsionada por inteligência artificial, que desenvolve terapias com anticorpos monoclonais para doenças infecciosas, detém licenças e patentes relacionadas a anticorpos monoclonais altamente específicos com grande capacidade de neutralização viral.

O MBL-YFV-01 é um anticorpo monoclonal humano descoberto por meio da plataforma BRAID™, de propriedade da Mabloc, que utiliza inteligência artificial para identificar e otimizar rapidamente potenciais anticorpos. Em um estudo com modelos animais publicado em 2023 na Science Translational Medicine, uma dose única de 50 mg/kg de MBL-YFV-01 controlou totalmente a viremia e preveniu a doença grave e a morte.

“A capacidade de intervir durante a fase aguda da doença, com risco de vida, é o que torna o MBL-YFV-01 único. Embora a vacinação proteja a maioria da população, ainda há locais onde a imunização não é largamente acessível”, afirma o diretor de Desenvolvimento de Produtos da Mabloc, Michael Ricciardi. “Com a comprovada capacidade do Butantan de fabricação de produtos biológicos e de ensaios clínicos, esta parceria nos permite responder rapidamente a surtos reais e levar uma terapia extremamente necessária às mãos de médicos e pacientes. Este será o primeiro medicamento específico para o tratamento da febre amarela”, ressalta.

Os anticorpos monoclonais (mAbs) são uma classe de medicamentos produzidos a partir de diferentes tecnologias que identificam uma sequência genética e tratam uma variedade de doenças infecciosas, autoimunes e cancerígenas com efeitos colaterais mínimos ou inexistentes. O Butantan possui um Laboratório de Biofármacos que estuda novos anticorpos monoclonais e uma fábrica onde podem ser produzidos diferentes anticorpos monoclonais.

Termos da Parceria

O acordo estabelece a concessão de uma licença exclusiva ao Butantan para o desenvolvimento do anticorpo monoclonal contra a febre amarela, bem como para sua futura comercialização em países de baixa e média renda.

“Anticorpos monoclonais são medicamentos inovadores e altamente específicos, cuja relevância para prevenção e tratamento de doenças infecciosas tem crescido nos últimos anos. Desenvolver este produto passando por toda a rota tecnológica, não só se alinha com a missão do Butantan, como também gera muito aprendizado e competência técnica para o país por meio do investimento em P&D de áreas pouco exploradas pela indústria – o que reafirma nosso compromisso de transformar ciência em impacto social entregando mais uma solução em benefício da saúde pública”, complementa Cristiano Gonçalves.

Foto: Reprodução/Secom SP
Foto: Reprodução/Secom SP

Importância Clínica

Um estudo de 2019 com pacientes de febre amarela, publicado no The Lancet Infectious Diseases, demonstrou que a alta carga viral poderia ser uma variável preditora independente de mortalidade. Segundo a pesquisa, 100% dos pacientes investigados com alta carga viral e contagens elevadas de neutrófilos morreram durante a hospitalização. O MBL-YFV-01 reduz a carga viral e pode oferecer uma maneira de diminuir as mortes em casos graves.

“Com o MBL-YFV-01, finalmente teremos o potencial de atingir diretamente o vírus e dar aos pacientes muito doentes uma chance real de sobrevivência”, completa Cristiano.

Situação da febre amarela no Brasil

A febre amarela é causada por um vírus transmitido por mosquitos e tem dois ciclos de transmissão: urbano e silvestre. De acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), há 47 países endêmicos ou com regiões endêmicas de febre amarela, 34 dos quais na África e 13 na América Central e do Sul. Um estudo modelo baseado em fontes de dados do continente africano estima que, em 2013, houve entre 84 mil e 170 mil casos graves e entre 29 mil e 60 mil mortes por febre amarela naquela região.

Em 2025, a OPAS alertou para um aumento de casos humanos de febre amarela em países das Américas, incluindo a identificação de ocorrências fora da região amazônica, em seu Alerta Epidemiológico Febre Amarela na Região das Américas. Dos 235 casos e 96 mortes por febre amarela notificados em cinco países das Américas até maio deste ano, representando uma taxa de letalidade de 41%, 111 casos e 44 mortes ocorreram no Brasil, o maior percentual na região.

“Em 2024, casos humanos de febre amarela foram notificados principalmente na região amazônica da Bolívia, Brasil, Colômbia, Guiana e Peru. Em 2025, no entanto, os casos foram detectados principalmente no estado de São Paulo e no departamento de Tolima, na Colômbia, regiões fora da região amazônica de ambos os países”, destaca o documento da OPAS.

No Brasil, o ciclo da doença é atualmente silvestre, transmitido por mosquitos dos gêneros Haemagogus e Sabethes. Os últimos casos registrados de febre amarela urbana no Brasil datam de 1942, e todos os casos confirmados desde então se devem ao ciclo de transmissão silvestre, segundo o Ministério da Saúde.

Os sintomas mais comuns da febre amarela são dores no corpo e de cabeça, náuseas, febre, perda de apetite e vômitos, que desaparecem em 3 a 4 dias. Em média, 20% dos casos podem evoluir para uma forma grave, com sintomas como pele e fundo dos olhos amarelados, urina escura, dor abdominal e vômito com sangue, segundo a OPAS.

A vacinação é a principal ferramenta de prevenção da doença e, no Brasil, é oferecida pelo Sistema Único de Saúde (SUS) a toda a população.

A OPAS alerta que viajantes que visitam regiões endêmicas podem, ocasionalmente, trazer febre amarela para outros países livres da doença. Para evitar a importação da doença, muitos países exigem comprovante de vacinação contra a doença antes da emissão de vistos, principalmente para viajantes provenientes ou que visitaram essas áreas.

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