O programa Brotar realizou o segundo treinamento de recenseadores indígenas no estado de São Paulo. As equipes são capacitadas para realizar o censo de saneamento em áreas rurais com uso de geolocalização, tecnologia digital e mapeamento de soluções. A pesquisa inclui ainda terras indígenas e quilombolas.
Desta vez, indígenas da região do Vale do Ribeira foram treinados para o recenseamento na Escola Estadual Indígena da Aldeia Pindo-Ty, que integra a terra indígena Pindo-Ty/Araçá-Mirim, no dia 10 de dezembro. O território possui 1.030 hectares de ocupação tradicional do povo guarani mbya, localizado entre os municípios de Cananéia, Iguape e Pariquera-Açu.
No total, 18 recenseadores indígenas dos municípios de Cananéia, Iguape, Itariri, Pariquera-Açu, Registro, Sete Barras, Miracatu e Eldorado participaram da capacitação. O treinamento incluiu orientações sobre o uso correto do equipamento, abordagem nos domicílios e o preenchimento adequado dos dados coletados. A atividade foi conduzida pelos técnicos do programa Brotar Raíssa Lima e Matheus Fernandes, além do coordenador técnico do projeto e pesquisador científico do Instituto de Economia Agrícola (IEA-Apta), Vagner Azarias Martins.
Segundo Martins, esse trabalho é fundamental para a continuidade da população indígena nestas áreas. O pesquisador destaca ainda os ganhos em termos de cidadania para os povos indígenas e também de proteção ambiental. “A preservação do meio ambiente depende das reservas indígenas. São áreas que, em todos os municípios, têm o melhor índice de preservação. E para que essas novas gerações permaneçam nesses locais preservando suas tradições e cuidando do meio ambiente, é necessário que tenham uma infraestrutura adequada”, observa.

O censo rural teve início em agosto de 2025 e será realizado até julho de 2026, utilizando tecnologia de coleta digital via aplicativo, com planejamento específico por região. Entre os benefícios esperados estão a ampliação do acesso à água potável e a coleta e tratamento de esgoto, a redução de doenças de veiculação hídrica, a valorização das propriedades rurais, além de embasar o planejamento de políticas públicas e fortalecer o desenvolvimento sustentável e a agricultura familiar.
O líder indígena Ataíde Gonçalves Vilharve afirma que esse trabalho será importante para levantar os problemas estruturais de aldeias na região do Vale do Ribeira e dar visibilidade às áreas indígenas. Ele destaca o acesso às tecnologias disponibilizadas pelo programa Brotar: “Para o nosso povo guarani, quando se trata de tecnologia, internet, é tudo novidade. Então estamos aqui para aprender. A gente tem esse interesse. Precisamos ter esse mínimo de manuseio com a tecnologia para que possamos apoiar e fortalecer nosso território”, complementa. O recenseador Jeferson Veríssimo terá a oportunidade de trabalhar com um tablet, dispositivo eletrônico portátil fundamental para o levantamento de dados do censo rural. “Meus amigos falam que é a primeira vez que estou manuseando o tablet, primeira vez que senti a sensação. É muito legal, prático e fácil ao mesmo tempo. Eu tenho meu celular, faço vídeos, uso o Google Maps para ver localizações e fico muito feliz por aprender isso”, finaliza.
Brotar tem autorização da Funai para iniciar projeto em áreas indígenas
O ingresso em terras indígenas é regulamentado por normativos da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), sendo as autorizações de ingresso em terras indígenas de competência exclusiva da Presidência da Funai, que emite essas autorizações após a devida instrução do processo administrativo. Além disso, diversos protocolos precisam ser seguidos para garantir os direitos dos povos indígenas e a sua integridade sanitária, entre eles, o consentimento dos próprios povos indígenas para a entrada de terceiros em suas comunidades. Neste sentido, a coordenação do programa Brotar obteve autorização junto à Funai-Coordenação Regional Litoral Sudeste e também mantém contato permanente com lideranças indígenas do Estado de São Paulo para a realização da pesquisa.
Sobre o Programa Brotar
O programa Brotar é um censo rural que realiza levantamento de campo em 371 municípios do estado de São Paulo, abrangendo mais de 820 mil domicílios, divididos em 20 frentes regionais. Após o censo, a Sabesp apresentará soluções sob medida para cada região, a fim de otimizar a chegada de água de qualidade e rede de coleta e tratamento de esgoto.
O Brotar é executado pela Sabesp, junto com o Laboratório de Informações Estratégicas Agroambientais do Instituto de Economia Agrícola (IEA-APTA), da APTA, o órgão de pesquisa da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo. Antes da desestatização, a Sabesp não atuava em áreas rurais, informais e de extrema vulnerabilidade por questões contratuais. Com a inclusão destas regiões no novo escopo, a Companhia vai criar uma infraestrutura para levar água de qualidade e rede de coleta e tratamento de esgoto a áreas rurais.
O censo começa com um formulário, que deverá ser respondido pela população de todas as residências mapeadas, cujas informações são essenciais para direcionar os investimentos e obras necessárias em cada região.